Ha monstros debaixo da cama

terça-feira, setembro 26, 2006

O importante é isso: estar pronto para, a qualquer momento, sacrificar o que somos pelo que poderíamos vir a ser

A Viagem de Chihiro

"Chihiro é uma miuda de 10 anos que acredita que todo o universo deve atender aos seus caprichos. Após saber através dos seus pais que se vão mudar para outra cidade ela fica furiosa, não fazendo qualquer esforço para esconder a sua raiva. Enquanto se lembra dos amigos que terá de deixar, Chihiro percebe que o pai se perdeu no caminho para a cidade onde irão morar, indo parar defronte de um túnel aparentemente sem fim que é guardado por uma estranha estátua. Curiosos, os pais de Chihiro decidem entrar no túnel. Apesar dos pedidos para voltarem ao carro, Chihiro acaba por ir com eles para descobrir que este túnel vai dar a um mundo aparentemente deserto, onde existe uma cidade sem habitantes. Famintos, os pais de Chihiro decidem comer a comida que está disponível numa das casas, enquanto que a própria Chihiro decide explorar um pouco a cidade. Entretanto, ela encontra Haku, um rapaz que lhe diz para ir embora da cidade o mais rápido possível. Ao reencontrar seus pais, Chihiro fica surpreendida ao ver que eles se transformaram em gigantescos porcos, enquanto que misteriosos seres começam a surgir do nada. É o início da jornada de Chihiro num mundo fantasma, povoado por seres fantásticos, no qual os humanos não são bem-vindos."

Hoje estive a ver o filme "A Viagem de Chihiro". Pelo resumo do filme, talvez ele dê a ideia de ser banal, não mais do que um filme para crianças. No entanto, do meu ponto de vista, o filme representa mais do que isso.No filme, Chihiro, a rapariguinha de 10 anos, é forçada a fazer uma opção, salvar os pais e, por isso, saír daquele mundo, ou ficar por ali com o amor da sua vida. De qualquer das maneiras, ela fica sempre a perder.

Isto dá que pensar.. Ao longo da nossa vida somos obrigados a tomar decisões, umas mais difíceis que outras sem sabermos ao certo o impacto que elas poderão ter nas nossas vidas. Não me refiro àquelas decisões em que basta observar e analisar os factos para saber como proceder face a situação. Não, estou a falar daquelas decisões em que a falta de informação nos causa incerteza. Aquelas decisões que nos deixam perdidos, sem saber o que fazer e em que desejamos não ter que optar.No entanto, isto não é possível, e a decisão tem que ser feita. O que nos lembra do pequeno e insignificante facto que é não podermos ter tudo, não podermos realizar todos os nossos sonhos. Sinceramente, este facto é complexo de mais para a minha pobre cabecinha que se recusa a aceitá-lo. Afinal, os meus pais sempre me disseram que eu podia ser tudo o que quisesse desde que me esforça-se, que podia ter tudo o que queria desde que desse o meu melhor. E vejo-me com o direito a tudo. Mas não posso, cá dentro sei que não posso. E à medida que cresço, isso torna-se mais evidente. Há sacrificios que têm que ser feitos. Porque "o importante é isso: estar pronto para, a qualquer momento, sacrificar o que somos pelo que poderíamos vir a ser" (Charles Du Bois).O que sacrificar? Isso é outra história. Acho que devemos ter em conta todos os factos. Analisa-los bem e decidir consoante a nossa situação nesse momento. Depois, é só procurar outro caminho para atingir o nosso objectivo: a realização dos nossos sonhos. É que se formos a ver, "todos os homens, sem excepção, procuram ser felizes. Embora por meios diferentes, tendem todos para este fim" (Blaise Pascal). Se não fosse pelos sacrifícios, a felicidade não teria o mesmo valor..

No filme, a Chihiro teve que passar por isto. Ela teve que crescer e aperceber-se de que nunca poderia ter tudo e que, por isso, tinha que optar.




Informação sobre o filme retirada de http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/spirited-away.asp

sexta-feira, setembro 22, 2006

"Sou teu amigo,
Quando estás feliz ou quando te feres.
Em todos os momentos, estarei sempre contigo.
Amigo, sempre que quiseres."
(João Peixoto)

Dedicatória aos Amigos...

Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo....

Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão:
"Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto!

"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!"
A saudade vai apertar bem dentro do peito.

Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......

Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
E, entre lágrimas abraçar-nos-emos.

Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo.....

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades....
(Fernando Pessoa)



...Parabéns Joana

terça-feira, setembro 05, 2006

Mais vale a lágrima de uma derrota do que a vergonha de não ter lutado.

Nunca pensaram que podiam fazer mais?
Por vezes encontro-me a pensar nisto e não posso deixar de admitir que o que faço é muito pouco. Muito pouco mesmo…
Ainda ontem estava a falar com amigos e não pude deixar de reparar que as pessoas criam as desculpas mais absurdas para se tentarem desculpar. Procuram comparar-se aos outros, como se isso fosse desculpa. Toda gente sabe que não é por alguém se mandar dum poço a baixo que nós o vamos seguir. Isso é impensável. Então porquê? Porquê dizer “os outros fazem ainda menos que eu” ou “Se todos fizessem isso… mas uma só pessoa não consegue nada”. Porquê defender estas afirmações com tanto afinco, como se fossem uma razão. Eu fico perplexa ao ouvir isto. Como é que alguém consegue viver assim? Acreditar nas suas próprias mentiras? É claro que uma pessoa faz a diferença! Mas não, as pessoas já não querem saber da verdade, calam-se na esperança de que tudo lhes passe ao lado - “Há momentos em que silenciar é mentir”. Preferem não se envolver porque não tem nada a ver com elas. Mas tem..
Não pensem que por dizer pessoas, me estou a excluir. Antes pelo contrário, eu sou uma dessas pessoas. Eu também procuro acreditar que não ter tempo é desculpa; mas no fundo sei bem que eu posso fazer o tempo, e que se não faço é porque não quero. Eu sou uma das que prefere viver na ignorância e não saber que em cada 3,5 segundos morre um ser humano à fome. Mas depois… Depois apercebo-me de que o problema é que eventualmente, as coisas não vão “acontecer aos outros”, vão acontecer-me a mim. E aí, quem é que me vai ajudar? Aqueles 307 milhões de pessoas pobres no mundo com as quais me preocupo “tanto” e lamentamo diariamente? Ou serão os 815 milhões de pessoas que morrem de fome por todo o mundo e que eu ajudei com tanto “carinho”?

Por vezes penso que já não há nada a fazer, mas depois vejo pessoas a distribuírem cobertores ou comida no meio da rua. Pessoas a pedir comida às portas dum hipermercado. Pessoas que fazem mais do que eu. Pessoas que não ligam aos outros quando estes dizem que aquilo não serve para nada. Pessoas que acreditam que “É impossível fazer um laço com uma única mão”. Não gostavam de ser assim, fazer o que elas fazem e adormecer à noite com uma consciência limpa?
Eu gostava, mas não, opto por adormecer a chorar com a imagem daquela criança a chorar porque não tem pais; porque não tem quem a aconchegue à noite e lhe dê um beijo. Porque eu tenho o que ela não tem, e não lhe dou valor…

“Em um tempo onde a Paz se encontra mais uma vez ameaçada pela insânia e estupidez dos insensíveis e insensatos, a solidariedade precisa ser uma atitudecontributiva para a construção de uma humanidade humanizada.”